sexta-feira, 8 de setembro de 2017

A guerra próxima viola o espaço escolar...

Replico o texto do colega Sílvio Rocha da escola em que estamos agora, sobre o que aconteceu na última quarta-feira.

Dia muito difícil hoje na escola Timbauva. A violência nos cerca e impede a normalidade das aulas. Compartilho a reflexão do colega Silvio Rocha:
Silvio Rocha adicionou uma foto e um vídeo.
Hoje nossa escola foi sitiada... vivemos momentos de pânico e angústia. Ao iniciar o turno da tarde ocorreram várias rajadas de tiros... gritaria... correria... crianças e pais agitados buscando refúgio na escola... Choros, murmurinhos e aquele ar pesado de que algo muito ruim pode acontecer a qualquer instante... Como manter a normalidade da aula?
Outros tiros são audíveis na proximidade da escola... Percorro o corredor do prédio da entrada, onde os pais se aglomeram na tentativa de encontrar proteção... O corredor está lotado... o burburinho de vozes trêmulas e tensas sufoca o ambiente... Olho para as crianças da pré-escola... lá estão sentadinhas no chão... no rosto de algumas as lágrimas ... em outras percebo as mãos trêmulas... (meus Deus com seis anos de idade e as mãos trêmulas) Aquele olhar pueril, mas que sente o peso da situação de guerra vivida... A guerra próxima viola o espaço escolar... o recado é certeiro e inequívoco... para facções rivais não existe lugar intocável...
A correria continuava... Meus colegas professores/as e funcionários/as, embora oprimidos pelo que estávamos vivenciando, exercitaram todos seus instintos de proteção e fraternidade para com os alunos... Novas rajadas ali e acolá... A agitação aumenta...
Agora o recado vindo de fora era ameaçador: evacuar a escola, pois a invasão é eminente... deve ser rápido... ou vai dar “merda”... a tomada da vila foi deflagrada... e a escola é alvo... é o trunfo de alerta... É o sinal vermelho para dizer que ninguém será poupado.. Os telefones não param... após muitas ligações e nosso pedido de ajuda para a Brigada Militar e a Guarda Municipal a resposta foi praticamente a mesma: não temos efetivo para ajudar a escola...
Novamente sozinhos... a evacuação começa... Diante de tudo, até foi organizada para evitar o pânico... Nesse momento nossos telefones particulares também foram utilizados para enviar alertas aos familiares para que todos alunos pudessem sair em segurança... Vi ainda muitos pais buscando abrigo na escola... com medo de ir embora... e nós tendo que mandá-los para casa, pois sabíamos que a escola naquele momento era zona de risco...
Aos poucos a escola foi sendo esvaziada... o murmurinho deu lugar a um clima de angustia pela certeza de que nossos alunos terão um longo feriadão... pela incerteza de como ficarão nesses dias... Como será o retorno na segunda-feira? Que inferno viverão?
Com a escola já quase vazia chega a guarda municipal para garantir a saída de todos... vários carros em diferentes pontos das esquinas da escola... Agora os tiros deram lugar aos motores de nossos carros saindo dali... Nós saímos do bairro... nossos alunos ficaram... Deus proteja-os...
Há, é bom dizer que nosso salário foi parcelado pelo Marchezan e seu secretário de educação, mas não dá para esquecer que a Vida não pode ser parcelada... ela está diante de nós de forma inteira e integral... Assim, estamos de “corpo e alma” no desconforto do conflito armado que transpassa as dependências da escola... ainda que nos nossos lares estejamos vivenciando os efeitos do parcelamento do salário... De qualquer maneira, em uma ou outra situação, é o poder público não cumprindo suas obrigações...
Força Timbaúva.

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